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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Tensão

 Uma discussão logo cedo mudou os humores da casa.

Clóvis, um homem grande, porém sensível disse alguma merda para sua esposa Elaine, que, evidentemente, não gostou do que ouviu. Mas, parece que Clóvis não sabe disso. Deve ser muito burro para entender.

- Cadê as chaves?

- Onde você deixou pela última vez?

- Se eu soubesse não estaria perguntando, Clóvis.

- Não precisa ser tão grossa.

- Grossa...meu pau é grosso, seu idiota.

- Não entendo porque tanta irritação.

- Ou você é burro ou se faz de burro. De qualquer modo, tô muito surpresa com sua ignorância recorrente.

- As chaves alí, Elaine. "Vambora"!

Ambos saem do quarto, atravessam, apressadamente, a cozinha e depois a sala, sem trocar uma palavra ou olhares sequer. Elaine entra no carro, fecha a porta e dá partida.

- Espera eu abrir o portão!

"Esse cara é burro, mesmo. Não tem jeito." - Pensou Elaine.

Clóvis entra no carro, olha para a esposa e pergunta:

- Você vai me deixar primeiro?

- O que a gente combinou ontem?

- Que você me deixaria no trampo e depois iria pra entrevista.

- Exato. Mais alguma pergunta?

- Não.

No decorrer do trajeto o casal não troca uma palavra, mas, Clóvis tenta puxar qualquer papo, só para pensar que as coisas estão bem. Mexe no porta-luvas, faz comentários sobre o trânsito, sobre o tempo, sobre o Universo e afins, mas, nada. Elaine sente que tem a situação nas mãos. Ela está no controle e Clóvis sabe disso. Para ele tudo vai se resolver no final do dia, com um agrado aqui ou uma fodinha acolá. Mas, vá saber.

domingo, 16 de agosto de 2020

Fruto

- Vai ficar quieta, mesmo?

- Não compensa falar. Não vai adiantar nada.

- Sério isso? O cara te ofende, fala um monte de merda pra você e...de boa?!

- Um dia ele vai ter o que merece.

- E quem vai dar pra ele o que ele merece? deus? O universo? Sério que você vai esperar a sorte revidar pra você? Você vai esperar a aleatoriedade mostrar praquele CUZÃO que ele tá errado?!

- Não quero arrumar treta...

- Não é arrumar treta. Você tem que mostrar pra ele o lugar dele. Ele tá achando o quê? 

- Você não entende, Roberta.

- Não mesmo, amiga. Mas tô vendo a situação do lado de fora, e, no momento, não tô gostando do que tô vendo. E, sinceramente, não quero ver amiga minha, na pior das hipóteses, morta pelas mãos de um arrombado que não sabe tratar bem nem mesmo a mãe dele, eu garanto.

- Pior que com a mãe ele parece ser menos agressivo.

- Ah, então a parada é do portão de casa pra fora?! É o trampo dele ser cuzão com mulher?! Quer saber...vou falar agora com esse cara.

- Não, Roberta. Por favor.

- Por que não? Vamos nós duas lá. Bora, Ana!

- Não, por favor...

Ana começa a chorar.

- Você tá com medo de que? Esse pode ser o fim do seu relacionamento, amiga, mas vai ser melhor assim. Confia.

- Não acho que nosso "relacionamento"...vai acabar assim.

- Ué...e por quê?

- Tô grávida.

- Tá de brincadeira...

- Pior que não. Recebi o resultado do teste ontem. De 3 meses.

Roberta abaixa a cabeça. E fica em silêncio.


quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Título do texto

Primeira frase desse texto.

Lembrei de Sartre

Estou procurando alguma coisa para fazer. Na verdade, estou procurando alguma coisa para fazer e que me dê algum dinheiro suficiente para pagar o que preciso e o que quero. Um emprego?!
Mas, não só isso. Quero alguma coisa que me possibilite "usar" meu diploma (que ainda não fui buscar na faculdade. Agora que me lembrei).
Isso! Acho que no fundo tô procurando algum papel. Tipo em um filme. Um papel que me possibilite atuar como o personagem que demorei cinco anos (ou mais) para construir. Se é que construi, afinal, lá na "facul" fui mero estudante, nada de profissionalismo. Lembrei-me de Sartre agora.
Beleza!
Quero um papel que me possibilite atuar como o personagem que estou legalmente "apto" a "ser" e que ainda me renda algum dinheiro. Mas aí penso que esse lance de atuar pode não render tanta grana assim. Mas o que é "tanta grana", afinal? Será que, pelo menos, traz gostosas risadas?
Enfim... pensar que a vida é um palco traz alguns desdobramentos bastante interessantes. Porém, deixa para uma próxima.

sábado, 17 de novembro de 2018

A visita

Fui visitado pelo demônio que Nietzsche descreve em sua Gaia Ciência.
E ele me fez exatamente a mesma pergunta...porém, com palavras mais simples: Você realmente quer viver, por toda a eternidade, esta vida que PENSA que vive agora?
Olhei nos olhos dele e respondi que "sim e não".
Ele se sentou no chão, me olhou com certo ar de espanto, mas um espanto encenado, e disse que "isso soa ilógico para você".
Eu sei!
Entretanto, expliquei que Sim!, pelo fato de não me sentir TÃO incomodado com o que me ocorre e nem com a vida que penso que vivo. E Não!, pois sinto que algo precisa ser mudado, só não sei por onde começar.
Ele, então, retrucou:
- Basicamente, em time que está ganhando não se mexe?!
- Basicamente...muito provavelmente, sim! - Respondi.
Senti que ele foi tomado por certa insatisfação, por isso ousei perguntar:
- Você acha que eu devia mudar alguma coisa?
Ele me encarou, me curvei para o lado e dei uma golada na cerveja. Mas, quando voltei, ele já havia desaparecido.
Acendi um cigarro, traguei a fumaça e a soltei lentamente.
"Será que algo precisa ser modificado?"
Mais uma tragada!